Cardioncologia: tudo que você precisa saber sobre a especialidade

Com o passar dos anos, as pesquisas e tratamentos relacionados ao câncer vêm ficando cada vez mais refinados. Além disso, é inegável que os tratamentos oncológicos garantem uma maior qualidade de vida, levando muitas vezes até mesmo a cura da doença.

Porém, mesmo sendo de extrema importância, os procedimentos oncológicos não deixam de ser processos potencialmente agressivos ao nosso organismo.

Sendo assim, não é difícil de se imaginar que tais tratamentos possam oferecer riscos e possíveis complicações para diferentes sistemas do corpo humano, como é o caso do sistema cardiovascular.

A melhora da qualidade de vida e o aumento da sobrevida nos pacientes oncológicos levou à maior exposição dos pacientes aos fatores de risco cardiovasculares, além disso à exposição aos tratamentos com risco de cardiotoxicidade.

Mas afinal, o que é a cardioncologia?

A cardioncologia é a área da cardiologia que se dedica ao estudo das possíveis alterações no sistema cardiovascular durante e após um tratamento oncológico.

Entretanto, a cardioncologia se ocupa em grande parte da detecção precoce de possíveis problemas cardiovasculares em pacientes lutando contra o câncer.

Por mais que essa seja uma subespecialidade extremamente relevante no mundo da saúde, essa não é uma área muito conhecida por pessoas distantes da cardiologia.

Pensando nisso, juntamos aqui algumas informações de extrema importância para quem quer saber mais sobre a cardioncologia, ou para quem está passando por um tratamento oncológico e quer saber mais sobre como prevenir problemas cardiovasculares.

Como tratamentos oncológicos podem afetar o coração

A quimio e a imunoterapia são as principais ferramentas no tratamento oncológico, muitas vezes associadas a radioterapia e a cirurgia. Porém, sabemos que estes tratamentos são muito agressivos para o organismo como um todo. Isto significa que diversos órgãos podem ser afetados durante e após o tratamento, o que inclui o sistema cardiovascular.

No entanto, a principal preocupação da cardioncologia está na descoberta precoce de um possível efeito adverso do tratamento oncológico no sistema cardiovascular, a cardiotoxicidade, ou de um problema cardiovascular coexistindo com o câncer.

O que é cardiotoxicidade?

Cardiotoxicidade é o nome dado a possíveis danos que podem ocorrer ao coração em decorrência de algum tratamento oncológico.

Segundo Diretriz Brasileira de Cardio-Oncologia da Sociedade Brasileira de Cardiologia, uma definição padronizada de cardiotoxicidade é essencial para fins assistenciais e de pesquisa nessa população. Nas últimas duas décadas, as definições de cardiotoxicidade dos ensaios clínicos de oncologia são baseadas nas medidas da fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE). O Instituto Nacional de Saúde (NIH) define cardiotoxicidade segundo a FEVE5:

Grau I: redução assintomática da FEVE entre 10% e 20%
Grau II: redução da FEVE abaixo de 20% ou abaixo do normal
Grau III: insuficiência cardíaca sintomática

A cardiotoxicidade apresenta-se de forma aguda, subaguda ou crônica. A cardiotoxicidade aguda ou subaguda caracteriza-se por alterações súbitas na repolarização ventricular, alterações no intervalo Q-T, arritmias supraventriculares e ventriculares, síndromes coronarianas agudas, pericardite e miocardite, geralmente observadas desde o início até 14 dias após o término do tratamento.

Dependendo do tipo de tratamento, a cardiotoxicidade pode ocorrer de duas maneiras distintas, de acordo com o início dos sintomas clínicos: o primeiro subtipo ocorre dentro de um ano após o término da quimioterapia, e o segundo ocorre geralmente após um ano do término da quimioterapia.

Fatores de risco

Como em qualquer outra doença, existem alguns fatores de risco que aumentam as chances de um paciente em tratamento oncológico apresentar problemas no sistema cardiovascular. Entre tais fatores, podemos citar:

  • Consumo de álcool em excesso
  • Sedentarismo
  • Alimentação desbalanceada e dietas pobres em nutrientes
  • Tabagismo
  • Obesidade
  • Fatores de ordem genética.

Para disfunção ventricular – clássicos fatores de risco como: extremos de idade, disfunção ventricular prévia, hipertensão arterial, diabetes, uso de associação de quimioterápicos, radioterapia mediastinal e suscetibilidade genética.

 

Além de tais fatores, caso a pessoa já apresente algum problema de ordem cardiovascular, como hipertensão arterial, arritmia, doença coronariana ou insuficiência cardíaca, consultas e exames devem ser realizados regularmente, e o cuidado deve ser redobrado ao longo do tratamento oncológico.

A importância da prevenção

Antes de iniciar qualquer tratamento oncológico, é sempre importante realizar exames cardiovasculares como forma de reduzir os riscos de complicações futuras.

Nos casos de pacientes que vão enfrentar tratamentos como a quimio ou a radioterapia, é provável que o próprio oncologista responsável já peça uma serie de exames, o que idealmente deverá constar com os exames cardiovasculares específicos.

Porém, além dos exames e das consultas frequentes, há outra parte extremamente importante quando falamos em prevenção de complicações cardíacas: manter uma rotina saudável – dentro dos parâmetros possíveis, costuma ser a maneira mais acessível de cuidar do nosso coração.

Contudo, deixar de lado hábitos como o tabagismo, a ingestão excessiva de álcool e de alimentos ultra processados e com alto teor de sódio, e conjuntamente fazer regulamente atividade física, aumentar a ingestão de água e de alimentos frescos, naturais e integrais, é sempre uma excelente maneira de garantir hábitos mais saudáveis.

Como os tratamentos oncológicos costumam ser momentos difíceis e delicados na vida dos pacientes, algumas práticas são importantes como: buscar ajuda com um profissional da área da nutrição costuma ser uma boa ideia para ajudar a manter a saúde ao longo do tratamento; melhorar a capacidade física, praticando exercícios físicos; e juntamente realizar o teste cardiopulmonar para reabilitação e pré-habilitação (antes da cirurgia).

Acompanhamento pós-tratamento

É comum inclusive, que o acompanhamento cardioncológico seja mantido mesmo depois do término do protocolo de tratamento do câncer. Isso é devido a algumas medicações oferecerem risco de acidentes cardiovasculares mesmo após serem finalizadas. É fundamental manter as consultas periódicas, sempre feitas de acordo com o especialista.

Contudo, esperamos que tenha ajudado a esclarecer algumas dúvidas!

Ter um acompanhamento de um cardioncologista ajuda ao paciente entender que existe muita vida no câncer e qualidade de vida. Um coração saudável aumenta a qualidade de vida e longevidade dos pacientes e é por essa qualidade que trabalhamos.