Ter dúvidas ou ansiedade em relação a qualquer procedimento cirúrgico é natural. Conversar com seu cardiologista é uma parte essencial do processo, e, por isso, você não deve ter receio em fazer perguntas.
Você sabia que, no Brasil, o primeiro transplante de coração foi realizado no final da década de 60? Desde então, passamos por diversos desenvolvimentos científicos revolucionários na medicina, além de seis décadas de pesquisa e aprimoramentos de metodologias e medicamentos.
Hoje, a realidade é de um prognóstico promissor para pacientes com indicação de transplante cardíaco. É normal ter ansiedade e medo em relação ao procedimento. É por isso que a informação e orientação é uma parte tão importante desse processo.
Nesse artigo, você encontra as principais dúvidas dos pacientes em relação ao transplante cardíaco. Faremos o possível para responder essas questões, mas lembre-se: se ainda tiver perguntas, não hesite em agendar uma consulta e conversar diretamente com um cardiologista.
O que é um transplante de coração?
Na medicina, o transplante consiste na substituição de um órgão doente, que já não consegue mais realizar suas funções, por um sadio.
Alguns órgãos podem ser doados em vida. No caso do coração, no entanto, a cirurgia acontece apenas após a autorização da família de um doador que sofreu morte cerebral.
Para quem o procedimento é indicado?
O transplante cardíaco é indicado para pacientes que sofrem com cardiopatias graves, que não podem ser tratadas através de outras opções. Isso é, esse procedimento é recomendado apenas quando o cardiologista determina que o uso de terapias, medicamentos ou procedimentos cirúrgicos menos invasivos não serão eficazes no tratamento da cardiopatia.
Alguns exemplos de situações onde um transplante de coração pode ser recomendado são:
- insuficiência cardíaca terminal;
- doença coronariana;
- arritmia;
- miocardiopatia hipertrófica;
- doenças cardíacas congênitas;
- pacientes que utilizam dispositivos de assistência circulatória.
Vale destacar: mesmo na presença dessas condições, são eletivos para o transplante de coração apenas os pacientes que:
- Não respondem ao tratamento medicamentoso
- Necessitam de medicamentos venosos e/ou de ajuda de aparelhos para bombear o sangue e/ou respirar
- Possuem alterações graves no ritmo cardíaco, com risco de vida
- Apresentam perda significativa de capacidade funcional (cansaço em repouso ou aos mínimos esforços), mesmo com tratamento medicamentoso otimizado
- Que não possuem condições de realizar outros procedimentos
O transplante de coração é sempre indicado nesses casos?
Mesmo que um paciente preencha algum desses critérios, nem sempre será submetido a um transplante cardíaco. Existem métodos rigorosos de listagem que deverão ser minuciosamente analisados pela equipe multidisciplinar que compõe o time de transplante (cardiologista, cirurgião, enfermeiro, fisioterapeuta, nutricionista, psicólogo e assistente social).
O processo de preparo para o procedimento incluirá uma grande variedade de testes e exames, buscando reduzir ao máximo os riscos para o paciente. Encontrar o melhor caminho de tratamento é um esforço de equipe, além de um processo individualizado.
Nem sempre o que é melhor para um paciente se aplica a outro. Todo organismo é único e, por isso, é fundamental que a equipe médica realize uma análise completa de cada caso.
Como a cirurgia de transplante de coração é feita?
Quando é decidido pela equipe médica que a melhor alternativa para um paciente é o transplante cardíaco, dá-se início ao processo.
O processo de doação de órgãos é, hoje, regulamentado e supervisionado pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT). É de responsabilidade desse órgão a realização de ações de gestão política, promoção da doação, logística, autorização e renovação das equipes e hospitais para a realização de transplantes, definição do financiamento e elaboração de portarias que regulamentam todo o processo, desde a captação de órgãos até o acompanhamento dos pacientes transplantados.
A autorização dos familiares coloca o coração à disposição do SNT, que identificará o paciente que receberá o órgão a partir de uma fila única de candidatos.
O coração, então, é preparado para transporte e o paciente é notificado da disponibilidade do órgão. O hospital, então, irá preparar o paciente para a operação.
Durante o procedimento, o sangue do coração doente será direcionado para uma máquina de circulação extracorpórea (também conhecida como “coração artificial”), que mantém o fluxo sanguíneo durante toda a operação, possibilitando a retirada do órgão. Os médicos, então, colocam o coração novo e restabelecem a circulação do paciente, que permanece em observação por cerca de 15 dias.
Quanto tempo o transplante de coração leva?
Todo o procedimento de transporte deve ser feito em menos de quatro horas. Isso porque esse é o tempo máximo que um coração pode permanecer armazenado fora do organismo.
Assim, a cirurgia de transplante cardíaco depende de um time multiprofissional, composto de duas equipes cirúrgicas. Uma vez que o fluxo de sangue para o órgão seja reestabelecido, o resto do procedimento poderá levar cerca de 8 a 12 horas. A duração da cirurgia depende se o receptor já possui um dispositivo de assistência cardiopulmonar e/ou se já passou por outra cirurgia cardíaca.
Quais são os riscos desse procedimento?
Toda intervenção cirúrgica apresenta riscos. É importante destacar que quanto mais invasivo o procedimento, maiores os cuidados que devem ser observados pelo paciente e equipe médica.
Os principais riscos da cirurgia cardíaca estão associados a infecções. Além disso, existe o risco imediato o sangramento do sítio cirúrgico no pós-operatório. Ainda, durante os primeiros cinco anos, é necessário realizar acompanhamento mais minucioso para observar as chances de uma possível rejeição do órgão.
Vale destacar, no entanto, que se seu cardiologista irá realizar um processo meticuloso de análise de risco antes de recomendar a cirurgia de transplante de coração. Assim, se essa foi a indicação ao paciente, isso significa que os benefícios serão infinitamente maiores que os riscos.
Como é o pós-operatório?
A recuperação inicial ocorre no período do pós-operatório imediato e, como em qualquer cirurgia cardíaca, depende do estado físico e das comorbidades prévias de cada paciente. Quanto mais grave o caso, mais tempo se leva na unidade de terapia intensiva.
Os pacientes que recebem um órgão novo são submetidos a biopsias regulares (retirada de pequenos fragmentos do órgão), que, no caso do coração, são realizadas por meio de cateterismo cardíaco, e o material é enviado para análise e pesquisa de rejeição.
Depois da unidade de terapia intensiva, é iniciado um trabalho em conjunto com a fisioterapia e nutrição para, aos poucos, o paciente recuperar sua capacidade funcional.
Ainda tem dúvidas? Converse com seu cardiologista!
A informação é sua maior aliada quando o assunto é cuidar da sua saúde. Por isso, não deixe de tirar todas as suas dúvidas e conversar com o seu cardiologista sobre qualquer ansiedade que você tenha.
E, para concluir, lembre-se: a melhor política para manter sua saúde em dia é a prevenção. Não deixe de consultar seu cardiologista de forma regular, principalmente em caso de sintomas como dor no peito.
Para homens a partir dos 45 anos e mulheres a partir dos 50, o acompanhamento deve ser anual, mesmo sem nenhum sintoma ou histórico de doenças cardiovasculares na família. Pessoas que praticam exercícios físicos ou esforço regularmente também devem fazer o acompanhamento para devidos ajustes.