A medicina está em constante evolução. Ao redor do mundo, cientistas se empenham diariamente para conquistar novos avanços e desenvolver metodologias capazes de aumentar a qualidade de vida dos pacientes.
O processo de descobertas científicas, no entanto, é mais burocrático do que muitos imaginam. É necessário que novos tratamentos passem por diversas etapas de pesquisa e ensaios clínicos. Uma das fases finais desse processo é a realização do tratamento em um grupo de indivíduos acometidos pelo fator de risco ou patologia em questão.
Ao longo dos anos, o processo de testagem de tratamentos se tornou cada vez mais preciso. Medidas como o uso de placebos, estudos duplo-cego e randomizados, por exemplo, ajudam a garantir a eficácia de tratamentos e medicamentos.
Nesse artigo, você vai aprender sobre a Medicina de Precisão. Essa é a demonstração mais moderna da individualização de tratamentos em busca do aumento da sua eficácia. Vamos lá?
Como a medicina de precisão surgiu?
A busca por respostas que justificam a ineficácia ou manifestação de efeitos colaterais em determinados indivíduos avançou significativamente quando os estudos do genoma humano começaram a mostrar resultados.
Isso é, a solução para algumas dessas questões estava nos fatores genéticos.
Surge, então, a farmacogenética. Uma combinação das áreas de genética, bioquímica e farmacologia capaz de mapear a relação causal entre o genótipo do indivíduo e a resposta do seu organismo a certos tipos de medicamentos.
Então, sabemos que determinados fatores na genética de indivíduos alteram a maneira que o organismo reage a tratamentos. Esse conhecimento pode ser utilizado diretamente na prevenção de patologias e na intervenção médica.
Surge, então, a Medicina Personalizada, ou Medicina de Precisão.
O que é medicina de precisão?
A medicina de precisão busca compreender os aspectos genéticos de cada indivíduo para traçar o plano de intervenções mais eficaz e assertivo. A ideia é personalizar e individualizar os tratamentos médicos, visando reduzir o risco de efeitos colaterais e maximizar a eficácia dos procedimentos.
Essa escola de pensamento alia o diagnóstico tradicional, realizado através dos sinais, sintomas e histórico do paciente, ao perfil genético do indivíduo.
Do ponto de vista do tratamento, isso permite que o médico selecione os medicamentos mais adequados, minimizando o risco de efeitos colaterais. Quando o assunto é prevenção, essa ótica permite a detecção de susceptibilidade a certas patologias antes que elas se manifestem.
Os benefícios da medicina de precisão
Todo paciente é único e possuiu necessidades e limitações específicas. Dessa forma, tratar todos os casos de uma patologia da mesma forma ignora um aspecto importantíssimo do quadro: o indivíduo.
Como aprendemos ao longo dos anos, através de pesquisas científicas meticulosas, fatores genéticos são responsáveis pelas variações nas respostas de pacientes a tratamentos. Assim, nada mais lógico do que mapear as relações entre genoma e reação aos medicamentos em busca da individualização dos tratamentos.
Além da maior precisão no diagnóstico e tratamento mais eficaz de patologias, a medicina de precisão também oferece benefícios na esfera pública. Isso porque evita desperdícios com tratamentos ineficazes, além de permitir a caracterização de subpopulações e a busca de medicamentos específicos para elas.
Em 2017, de acordo com o National Institute of Health (NIH), já existiam mais de 50 mil testes genéticos para 10 mil condições clínicas. Estes testes permitem a avaliação do potencial de resposta clínica de uma possível terapia para determinada doença. No geral, os testes orientam a escolha terapêutica para diversos tipos de doenças, principalmente nas oncológicas, onde é usado rotineiramente.
No entanto, a oncologia não é a única área que pode se beneficiar da medicina de precisão. Há testes genéticos capazes de detectar enzimas relacionadas ao metabolismo de drogas antidepressivas e anticoagulantes, por exemplo. Isso significa que, através da genética, é possível indicar medidas preventivas e os medicamentos mais eficazes para cada indivíduo.
A medicina de precisão no Brasil
A medicina de precisão está em crescimento, mas ainda é uma novidade. Nos Estados Unidos, onde o investimento em pesquisa e desenvolvimento para a medicina de precisão foi de US$ 215 milhões em 2016, 60% da população desconhece o termo, segundo levantamento de opinião pública em 2018, do Personalized Medicine Coalition.
No Brasil, infelizmente ainda há pouco material disponível sobre o assunto. Do ponto de vista da pesquisa, a reunião de diversos grupos voltados para farmacologia e genética criou em 2003 a Rede Nacional de Farmacogenética. O objetivo principal é gerar dados farmacogenéticos da população brasileira. Em 2017 foi criada a Associação Brasileira de Medicina Personalizada e de Precisão.
Alguns grandes hospitais privados em São Paulo já disponibilizam seus centros de medicina de precisão. O avanço foi possível graças às parcerias com empresas de base tecnológica, capazes de identificar novos marcadores e desenvolver novos testes. No Rio de Janeiro, muitos dos testes estão disponíveis em rede privada.
Quando o assunto é o Sistema Único de Saúde (SUS), no entanto, essa realidade parece bem distante. O alto custo envolvido com a realização de teste, além de preocupações com o manejo dos dados obtidos são as pautas que mais pesam na implementação da medicina de precisão em grande escala.
Em conclusão: A medicina de Precisão ainda está em seus primeiros passos
Como todo avanço científico, a medicina de precisão ainda precisa passar por muitas etapas de desenvolvimento até se tornar uma abordagem comum.
Essa óptica exigirá um grande investimento, devido à necessidade de caracterização genética prévia do indivíduo para a escolha da conduta médica. Isso poderá envolver a criação de centros de referência e exigir parcerias do sistema público de saúde com empresas privadas.
Certamente, à medida que a Medicina de Precisão é implementada em diferentes países, é necessária discussão, regulamentação e legislação.
As informações obtidas através dos testes genéticos podem ser utilizadas para compreender padrões e melhorar a precisão dos tratamentos. No entanto, também podem influenciar a seleção de pessoas a serem excluídas de planos de saúde ou de determinado posto de trabalho.
Ainda existe muito a se ajustar e definir quando o assunto é a medicina de precisão. No entanto, podemos inferir que as tendências para o futuro da medicina estão na individualização do tratamento. O reconhecimento das necessidades específicas do paciente, além do tratamento do indivíduo antes da patologia, mais do que nunca, estão em foco.